Você sabe que deveria me responder, né? E por ‘resposta’ eu digo ‘no
bom e velho português’, não com
essas carinhas tolas que eu mesma uso quase sempre, mas não as uso com você.
Para você eu tenho palavras, frases, histórias, contos, versos, prosas. Eu
gosto das palavras. Do som que elas fazem quando saem da boca e, principalmente,
do coração. De como, muitas vezes, soam espontâneas. E também quando são
simples e diretas. Todavia, gosto de quando chegam a mim cheias de floreios,
arrumadas como um buquê, repletas de termos complicados e um tom meio Machado
de Assis. Aliás, o autor de Helena me entenderia. Certamente compreenderia a agonia
que a falta das palavras traz.
Você ainda lembra que deveria me responder, né? Talvez, ao
contrário do que imaginava, eu esteja vivendo no século certo. Acredito que
todo aquele romantismo das cartas não me serve, afinal. Meu coração não
aguentaria esperar semanas por uma resposta, tampouco que você só pudesse
receber minhas palavras dias depois desde quando as escrevi. Ainda que eu usasse
uma boa caligrafia, um papel especial, dobrado cuidadosamente e guardado em um
envelope para que assim pudesse chegar às suas mãos. Não, as mensagens ‘instantâneas’ me agradam
mais. Isto é, se fossem instantâneas, como deveriam, de fato, ser. Mas não para
você, é claro.
Acaso você sabe que ainda não me respondeu? Veja bem, eu entendo
que existe o trânsito, o trabalho, os papeis para assinar, a família, o
cachorro, os amigos, aquele happy hour com
o pessoal do administrativo, entendo que seu carro quebrou e você está nas mãos
do transporte público da cidade grande... Por Deus que entendo tudo isso,
apenas gostaria de saber se não lhe sobram alguns segundos para ler e responder
as palavras escolhidas a dedo que eu lhe mando. Pode ser que você tenha vindo
ao mundo com o talento do teatro e não da escrita. Aliás, você seria aquele
personagem que todos adorariam ter por perto. O que fala pelo olhar, ri com
prazer, anota detalhes sobre mim que nem eu mesma havia percebido, dá aquele
tom de timidez na voz e nos gestos quando percebe que falou um pouco demais, dá
um sorriso para ver se consegue consertar as coisas... Você é aquele personagem
desengonçado para dançar, o mesmo que dá aquele abraço e deixa qualquer dia mais
bonito, que tem medo das turbulências do avião, que sempre encontra um ângulo
novo para tirar uma foto, que não gosta de café. Não gosta de café? Poxa... Definitivamente,
você nasceu para atuar. Tudo em você é atuação, é sinal. As palavras saem
naturalmente quando você as pronuncia, mas não consegue passar para o papel (ou
celular) por quê? Talvez sua atuação tenha ultrapassado a barreira e tudo não
passa de uma farsa? Sua resposta nunca virá porque tudo foi encenação sua?
Você deveria me responder, sabia? Ainda que a resposta não me agradasse,
preferiria que ela viesse o quanto antes porque assim eu poderia fechar a porta
para você e ver o que mais a vida tem a me oferecer. Espero que ela me ofereça
alguém com todas as suas qualidades, e alguns dos seus defeitos também. Com
exceção dessa sua falta de jeito com palavras escritas.
Na verdade, pensando bem, não
quero mais sua resposta. Pode guardar para si ou para outra pessoa que você
decidir analisar o currículo. Não quero mais resposta alguma que venha de você
ou do seu DDD. Seus pais deveriam ter te ensinado que é muito feio deixar as
pessoas sozinhas, especialmente as que você atrai para perto de si. E você sabe
que o movimento de atrair as pessoas para perto é tão natural na sua vida, que
talvez não se dê conta de como faz falta
ficar sem notícias suas, ou sem suas piadinhas.
PS: Empresas aéreas, ainda quero a resposta de
vocês, tá? Este é um texto fictício! Meu coração estará sempre ansioso pela
ligação de vocês. Não esqueçam!!!
Imagem ilustrativa, porque avião nunca é demais |
Um beijo!!!