domingo, 18 de outubro de 2015

Você sabe que deveria me responder, né?

Você sabe que deveria me responder, né? E por ‘resposta’ eu digo ‘no bom e velho português’, não com essas carinhas tolas que eu mesma uso quase sempre, mas não as uso com você. Para você eu tenho palavras, frases, histórias, contos, versos, prosas. Eu gosto das palavras. Do som que elas fazem quando saem da boca e, principalmente, do coração. De como, muitas vezes, soam espontâneas. E também quando são simples e diretas. Todavia, gosto de quando chegam a mim cheias de floreios, arrumadas como um buquê, repletas de termos complicados e um tom meio Machado de Assis. Aliás, o autor de Helena me entenderia. Certamente compreenderia a agonia que a falta das palavras traz.

Você ainda lembra que deveria me responder, né? Talvez, ao contrário do que imaginava, eu esteja vivendo no século certo. Acredito que todo aquele romantismo das cartas não me serve, afinal. Meu coração não aguentaria esperar semanas por uma resposta, tampouco que você só pudesse receber minhas palavras dias depois desde quando as escrevi. Ainda que eu usasse uma boa caligrafia, um papel especial, dobrado cuidadosamente e guardado em um envelope para que assim pudesse chegar às suas mãos.  Não, as mensagens ‘instantâneas’ me agradam mais. Isto é, se fossem instantâneas, como deveriam, de fato, ser. Mas não para você, é claro.

Acaso você sabe que ainda não me respondeu? Veja bem, eu entendo que existe o trânsito, o trabalho, os papeis para assinar, a família, o cachorro, os amigos, aquele happy hour com o pessoal do administrativo, entendo que seu carro quebrou e você está nas mãos do transporte público da cidade grande... Por Deus que entendo tudo isso, apenas gostaria de saber se não lhe sobram alguns segundos para ler e responder as palavras escolhidas a dedo que eu lhe mando. Pode ser que você tenha vindo ao mundo com o talento do teatro e não da escrita. Aliás, você seria aquele personagem que todos adorariam ter por perto. O que fala pelo olhar, ri com prazer, anota detalhes sobre mim que nem eu mesma havia percebido, dá aquele tom de timidez na voz e nos gestos quando percebe que falou um pouco demais, dá um sorriso para ver se consegue consertar as coisas... Você é aquele personagem desengonçado para dançar, o mesmo que dá aquele abraço e deixa qualquer dia mais bonito, que tem medo das turbulências do avião, que sempre encontra um ângulo novo para tirar uma foto, que não gosta de café. Não gosta de café? Poxa... Definitivamente, você nasceu para atuar. Tudo em você é atuação, é sinal. As palavras saem naturalmente quando você as pronuncia, mas não consegue passar para o papel (ou celular) por quê? Talvez sua atuação tenha ultrapassado a barreira e tudo não passa de uma farsa? Sua resposta nunca virá porque tudo foi encenação sua?

Você deveria me responder, sabia? Ainda que a resposta não me agradasse, preferiria que ela viesse o quanto antes porque assim eu poderia fechar a porta para você e ver o que mais a vida tem a me oferecer. Espero que ela me ofereça alguém com todas as suas qualidades, e alguns dos seus defeitos também. Com exceção dessa sua falta de jeito com palavras escritas.

Na verdade, pensando bem, não quero mais sua resposta. Pode guardar para si ou para outra pessoa que você decidir analisar o currículo. Não quero mais resposta alguma que venha de você ou do seu DDD. Seus pais deveriam ter te ensinado que é muito feio deixar as pessoas sozinhas, especialmente as que você atrai para perto de si. E você sabe que o movimento de atrair as pessoas para perto é tão natural na sua vida, que talvez não se dê conta de como faz falta ficar sem notícias suas, ou sem suas piadinhas.  


PS: Empresas aéreas, ainda quero a resposta de vocês, tá? Este é um texto fictício! Meu coração estará sempre ansioso pela ligação de vocês. Não esqueçam!!! 

Imagem ilustrativa, porque avião nunca é demais

Um beijo!!! 

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