sábado, 10 de outubro de 2015

Quando você tem um sobrenome difícil

Quando você tem um sobrenome (ou um nome) difícil você se acostuma com aquele olhar de surpresa/curiosidade/medo quando a pessoa pede o seu documento de identidade, por exemplo. Aquela confusão mental na cabeça que está raciocinando se aquilo é uma brincadeira, se o seu documento está errado, se você é de algum outro planeta, ou se ela está vendo coisas (ou consoantes demais, no meu caso).
Você já está preparada para as seguintes frases:
Nossa!!!
Nossa!!! Que sobrenome difícil!!!
Nossa!!! De onde é?
Nossa!!! Mas você é brasileira?
Nossa!!! Como se fala?
E por aí vai.... O “nossa” quase sempre está presente.
Mas atenção, não vá pensando que eu me incomodo com isso tudo. Pelo contrário, é uma ótima saída para começar um assunto, trocar uma ideia, quebrar o gelo e até fazer uma nova amizade.
Quando você tem um sobrenome (ou um nome) difícil você aprende a soletrar com um alfabeto próprio: P de pato, R de rato, Z de zebra, Y de Y mesmo... E pode variar também: P de pai, R de Roma, Z de zebra (não sei variar aí), Y, C de casa... Uma coisa tipo o ‘abecedário da Xuxa’, sabe? No curso de comissário de voo aprendemos o alfabeto fonético e preciso confessar que as vezes dá uma vontade louca de começar: Papa, Romeu, Zulu, Yankee, Charlie, Zulu... Mas nunca o fiz. Só em casa mesmo para aprender o tal alfabeto.
A gente aprende a soletrar mais de uma vez, a conferir letra por letra e pedir para reescrever porque está faltando mais um Z ou um Y (ou ambos). Aprende a abreviar quando precisa marcar uma consulta no médico e quase chora quando a secretária diz que não pode. Aí você já avisa: Então vou soletrar porque o sobrenome é difícil, tá? E aí começa tudo de novo. Você sente que a pessoa se perdeu no meio das letras. Ok, quando eu for à consulta dou uma ajuda para que ela consiga corrigir.
Acostuma-se com as pessoas que não gostam da brincadeira de soletrar e não aceitam sua ajuda na árdua tarefa que é escrever um sobrenome (ou um nome) difícil. Algumas erram e insistem em acertar sem ajuda, outras se arrependem e voltam atrás pedindo uma ajudazinha, e há as que não pedem ajuda e acertam de primeira. Parabéns! Admiro muito esse talento.

E, mais uma confissão: sinto-me especial por causa do meu sobrenome difícil. Do fácil também (Cardoso de Andrade), mas o difícil me fez aprender consoantes difíceis (Y e K), me fez persistir para escrever um Y que mais parece um U com um pinguinho em baixo, me fez ter paciência e empatia quando preciso soletrar, do sorriso das pessoas quando aprendem a pronuncia, e que carrega tanta história de gente que saiu do outro lado do oceano, sem perspectiva, sem saber onde e quando chegariam, se seria possível chegar. Chegaram ao Brasil sem falar português, sem conhecer o clima, os hábitos, porém, cheios de esperança. E sei que algumas letras perderam-se pelo caminho e outras mais também irão passar por isso, mas o que importa é que ele me traz tanta coisa boa, com ou sem letras perdidas, que eu acabo me encontrando nas pessoas que eu conheço graças a ele! 


PS: Prizinski 
PS: Minha cara de tristeza quando você não me deixa soletrar para te ajudar:

Um beijo!!!!

Um comentário:

  1. Muito bom!!! Hahaha
    Meu sobrenome não é tão difícil assim mas, ainda assim, é difícil (Heinsen).
    Me deparo, frequentemente, com as mesmas situações.
    Às vezes é complicado, às vezes divertido, mas o gostoso é saber que temos um algo mais que nos faz ser mais únicos e especiais do que já somos.
    Beijos! (:

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