Quando você tem um sobrenome (ou
um nome) difícil você se acostuma com aquele olhar de surpresa/curiosidade/medo quando a pessoa pede o seu documento de
identidade, por exemplo. Aquela confusão
mental na cabeça que está raciocinando se aquilo é uma brincadeira, se o
seu documento está errado, se você é de algum outro planeta, ou se ela está
vendo coisas (ou consoantes demais, no meu caso).
Você já está preparada para as
seguintes frases:
Nossa!!!
Nossa!!! Que sobrenome difícil!!!
Nossa!!! De onde é?
Nossa!!! Mas você é brasileira?
Nossa!!! Como se fala?
E por aí vai.... O “nossa” quase sempre está presente.
Mas atenção, não vá pensando que
eu me incomodo com isso tudo. Pelo contrário, é uma ótima saída para começar um assunto, trocar uma ideia, quebrar o gelo e até fazer uma nova amizade.
Quando você tem um sobrenome (ou
um nome) difícil você aprende a soletrar com um alfabeto próprio: P de pato, R de rato, Z de zebra, Y de Y
mesmo... E pode variar também: P de
pai, R de Roma, Z de zebra (não sei variar aí), Y, C de casa... Uma coisa tipo o ‘abecedário da Xuxa’, sabe? No curso de comissário de voo
aprendemos o alfabeto fonético e preciso confessar que as vezes dá uma vontade
louca de começar: Papa, Romeu, Zulu,
Yankee, Charlie, Zulu... Mas nunca o fiz. Só em casa mesmo para aprender o
tal alfabeto.
A gente aprende a soletrar mais de uma vez, a conferir
letra por letra e pedir para reescrever porque está faltando mais um Z ou um Y
(ou ambos). Aprende a abreviar
quando precisa marcar uma consulta no médico e quase chora quando a secretária
diz que não pode. Aí você já avisa: Então vou soletrar porque o sobrenome é
difícil, tá? E aí começa tudo de novo. Você sente que a pessoa se perdeu no
meio das letras. Ok, quando eu for à consulta dou uma ajuda para que ela
consiga corrigir.
Acostuma-se com as pessoas que
não gostam da brincadeira de soletrar e não aceitam sua ajuda na árdua tarefa
que é escrever um sobrenome (ou um nome) difícil. Algumas erram e insistem em
acertar sem ajuda, outras se arrependem e voltam atrás pedindo uma ajudazinha,
e há as que não pedem ajuda e acertam de primeira. Parabéns! Admiro muito esse
talento.
E, mais uma confissão: sinto-me especial por causa do meu
sobrenome difícil. Do fácil também (Cardoso de Andrade), mas o difícil me fez
aprender consoantes difíceis (Y e K), me fez persistir para escrever um Y que
mais parece um U com um pinguinho em baixo, me fez ter paciência e empatia
quando preciso soletrar, do sorriso das pessoas quando aprendem a pronuncia, e que
carrega tanta história de gente que saiu do outro lado do oceano, sem
perspectiva, sem saber onde e quando chegariam, se seria possível chegar.
Chegaram ao Brasil sem falar português, sem conhecer o clima, os hábitos,
porém, cheios de esperança. E sei que algumas letras perderam-se pelo caminho e
outras mais também irão passar por isso, mas o que importa é que ele me traz
tanta coisa boa, com ou sem letras perdidas, que eu acabo me encontrando nas pessoas que eu conheço graças a ele!
PS: Prizinski
PS: Minha cara de tristeza quando você não me deixa soletrar para te ajudar:
Um beijo!!!!
Muito bom!!! Hahaha
ResponderExcluirMeu sobrenome não é tão difícil assim mas, ainda assim, é difícil (Heinsen).
Me deparo, frequentemente, com as mesmas situações.
Às vezes é complicado, às vezes divertido, mas o gostoso é saber que temos um algo mais que nos faz ser mais únicos e especiais do que já somos.
Beijos! (: